Atriz, diretora, cantora, compositora e apresentadora morreu em seu apartamento, no Rio.
Filha de Procópio Ferreira, artista brilhou por décadas no teatro e nas telas.
A atriz e cantora Bibi Ferreira, diva dos musicais brasileiros, morreu nesta quarta-feira (13), aos 96 anos, no Rio.
Também apresentadora, diretora e compositora, ela foi um dos maiores fenômenos artísticos do país.
Segundo Tina Ferreira, filha única de Bibi, a artista morreu no início da tarde em seu apartamento no Flamengo, Zona Sul do Rio.
A atriz acordou e a enfermeira que a acompanhava percebeu que o batimento cardíaco estava baixo e, por isso, chamou um médico.
Tina acredita que a mãe morreu dormindo.
“Ela amanheceu normal, acordou tomou seu café da manhã e tudo. Depois ela só se queixou que estava se sentindo um pouco com falta de ar.
Então como tem enfermeira, tem tudo, tiramos a pressão, o pulso estava fraco.
Imediatamente chamamos o Pró-Cardíaco.
Eles vieram muito rápido, muito rápido mesmo, ambulância, médico, tudo, mas quando chegaram ela já tinha partido.
Ela morreu dormindo, tranquila”, explicou Tina.
A Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa informou que o velório vai ser no Theatro Municipal do Rio.
A cerimônia, aberta ao público, ocorre de 10h às 15h.
Depois, o corpo de Bibi deve ser cremado.
Artista multimídia, Bibi ao longo da carreira fez filmes, apresentou programas de TV, gravou discos e dirigiu shows.
Tudo sem nunca abandonar o teatro, uma grande paixão.
Também foi enredo da Viradouro no Carnaval do Rio em 2003.
Recentemente, teve a vida e obra contadas no espetáculo “Bibi, uma vida em musical”, escrito por Artur Xexéo e Luanna Guimarães, com direção de Tadeu Aguiar.
Na montagem, a protagonista foi interpretada por Amanda Costa.
Em março de 2018, já aos 95 anos, Bibi foi assistir a uma apresentação do musical, então em cartaz em um teatro no Rio e fez o público se emocionar ao chorar cantando, da plateia e sem microfone, uma música de Edith Piaf (1915-1963).
A própria Bibi interpretou a cantora francesa com maestria em um musical de enorme sucesso no Brasil e em Portugal.
O trabalho minucioso foi considerado tão perfeito que mesmo pessoas que conheceram Piaf se espantaram com o nível de semelhança.
Com o espetáculo, Bibi conquistou os principais prêmios do teatro nacional, como Molière, Mambembe, Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), Governador do Estado e Pirandello.
Foram apenas alguns dos muitos prêmios que colecionou ao longo das décadas de carreira.
TV
Em 1960, Bibi inaugurou a TV Excelsior com o programa ao vivo “Brasil 60”, que levou à TV os maiores nomes do teatro.
A atração mudaria de nome nos anos seguintes (“Brasil 61”, depois “Brasil 62” e assim por diante).
Na mesma emissora, também apresentou o programa “Bibi sempre aos domingos”.
Em 1968, estrelou o musical “Bibi ao vivo” – com direção de Eduardo Sidney, o programa era transmitido do auditório da Urca.
Musicais
Ainda nos anos 1960, Bibi estrelou outros dois dos musicais mais marcantes de sua carreira.
O primeiro foi “Minha querida dama” (“My fair lady”), de Frederich Loewe e Alan Jay Lerner, adaptação de “Pigmaleão”, de George Bernard Shaw.
No espetáculo, atuou ao lado de Paulo Autran (1922-2007) e Jaime Costa (1897-1967).
O outro trabalho marcante foi “Alô, Dolly!” (Hello, Dolly!), versão da obra “The matcmaker”, de Thornton Wilder, com Hilton Prado e Lísia Demoro.
Já na década de 1970, Bibi foi o principal nome de “O homem de La Mancha”, musical de Dale Wasserman dirigido por Flávio Rangel e com letras adaptadas para o português por Chico Buarque.
Marca no Canecão
A artista deixou ainda seu nome marcado na casa de shows Canecão, no Rio, ao dirigir o espetáculo “Brasileiro, profissão esperança”, de Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), produção inspirada na obra do compositor Antonio Maria.
No início, o show foi concebido em escala menor para ser apresentado em boates, com Ítalo Rossi e Maria Bethânia nos papéis centrais.
Mas depois o musical foi reformulado e ampliado.
Passou, então, a ser protagonizado por Paulo Gracindo e Clara Nunes, transformando-se em um dos maiores sucessos da história do Canecão.
Em 1975, Bibi recebeu o Prêmio Molière pela interpretação da personagem Joana, de “Gota d’água”, de Paulo Pontes e Chico Buarque, montagem que ambientava a tragédia “Medeia”, de Eurípedes, em um morro carioca.
Amália
No início dos anos 2000, Bibi Ferreira fez mais um trabalho impressionante ao interpretar a fadista Amália Rodrigues (1920-1999) no espetáculo “Bibi vive Amália”.
Em seguida, Bibi apresentou dois recitais, “Bibi in concert” e “Bibi in concert pop”, nos quais se apresentou acompanhada por orquestra e coral.
Vida reservada
Admirada pelo público e adorada e respeitada pelos colegas, Bibi sempre manteve uma rotina discreta, evitando a exposição de detalhes de sua vida pessoal – raras eram suas aparições em eventos sociais.
Segundo amigos mais próximos, quando estava fora dos palcos, Bibi preferia passar o tempo em seu apartamento no Flamengo.
Teve vários casamentos e apenas uma filha, Teresa Cristina.
Afastamento
“Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente.
Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo, a todos a que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada! Bibi.”
Com essas palavras, atribuídas a Bibi Ferreira em comunicado publicado em rede social, a atriz e cantora carioca anunciou, em 10 de setembro de 2018, que encerrava uma das carreiras mais gloriosas construídas por uma artista no Brasil e no mundo.
Aos 96 anos, a artista se retirou voluntariamente de cena para preservar a saúde após três sucessivas internações.
De acordo com a nota, Bibi disse que não iria mais se apresentar nos palcos como atriz e/ou cantora.
Tampouco daria entrevistas, nem mesmo por e-mail, como vinha fazendo nos últimos tempos.
Fonte G1 -RJ