O avanço tecnológico extermina profissões na mesma velocidade que cria novas, exigindo cada vez mais domínio técnico em substituição à força física ou uso do corpo como maquinário.
O registro apontado neste post permite a verificação de modos de vida que ficaram no passado, pois as antigas profissões marcam contingências de sua época, preocupações (como a de acordar cedo, refrigerar comida) e soluções para as quais já inventamos maneiras melhores de lidar.
1. Entregador de leite.
Um dos alimentos de origem animal mais antigos consumidos pelo homem, o leite era distribuído em garrafas de vidro (em algumas regiões rurais ainda persiste essa prática), até que se desenvolvessem práticas de preservação como a pasteurização ou tivéssemos tecnologia para armazená-lo por mais tempo, como a refrigeração.
O leite fresco diário era entregue de porta em porta por um profissional conhecido simplesmente como “garoto do leite”. Já não há mais esse tipo de emprego, nos locais em que o consumo do produto ainda é entregue em casa, a distribuição é feita pelo próprio produtor, numa economia informal (mesmo esse tipo de prática tem os dias contados, pois a vigilância sanitária proíbe a venda de leite sem que tenha passado pelos processos de higienização atuais).
2. Arrumador de pinos de boliche.
Popularizado na Europa e Estados Unidos durante a segunda metade do século XIX, o boliche empregava pessoas, normalmente crianças, para rearranjar os pinos após cada jogada.
A brincadeira, que remonta ao antigo Egito (séc. IV a.C.), tem em sua história o uso de escravos para a tarefa, contudo, no mundo moderno, a arrumação dos pinos era profissão.
Com o desenvolvimento de equipamentos mecânicos de reposição (várias soluções foram criadas, a mais comum era colocar fios de aço presos à ponta dos pinos), alguns arrumadores passaram a operar os equipamentos, até que o processo tornou-se totalmente eletrônico, dispensando essa mão de obra.
3. Despertador humano.
Essa profissão nasceu junto com o emprego, a partir da Revolução Industrial.
Durante todo o século XIX um série de processos produtivos passaram da manufatura para a indústria, vilas de trabalhadores foram surgindo ao redor dos parques industriais.
Nelas, havia um profissional encarregado de acordar as pessoas pela manhã, para que não perdesse na hora do trabalho.
O primeiro despertador mecânico foi desenvolvido em 1847, pelo francês Antoine Redier, mas popularizou-se algumas décadas depois.
Durante esse tempo, era comum encontrarmos nos vilarejos industriais uma pessoa com um bambu, ou vareta grande, com a qual batia à janela dos que o contratavam.
Em alguns locais usava-se uma zarabatana por onde o despertador humano atirava pedras à janela do cliente.
Curioso que hoje, até mesmo os despertadores mecânicos já estão sendo aposentados pelos celulares.
4. Cortador de gelo.
Antes da invenção do refrigerador, das máquinas que produziam gelo (a primeira, a vapor, foi criada por James Harrison em 1856 para gelar a produção de uma cervejaria), manter alimentos preservados pelo frio necessitava do serviço dos cortadores de gelo, profissão obviamente restrita a países em que a água congelava naturalmente (há registros dessa prática no sul do Brasil, mas não como profissão).
Em países como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra e outros países europeus, os cortadores de gelo eram encarregados de meterem-se nos lagos congelados, serrar grandes blocos de pedra de gelo, carregar uma carroça e levar à vila.
A profissão era de alto risco, mas bastante lucrativa.
5. Escutador de artilharia aérea inimiga (pré-radar).
Os conflitos bélicos são grande estimulante de desenvolvimento tecnológico.
Toda guerra faz com que as partes envolvidas invistam em equipamentos que garantam alguma vantagem no combate.
Na primeira guerra mundial, conflito cuja grande novidade bélica foi o uso do avião (o uso mortal da invenção teria motivado a depressão que culminou no suicídio de Santos Dumont).
Para detectar a chegada dessa máquina assassina, engenheiros alemães e ingleses quebravam a cabeça para desenvolver um radar, um equipamento que permitisse adiantar a chegada de uma bateria aérea. Assim, surge a função de “escutador de artilharia aérea”. Veja as incríveis engenhocas:
6. Caçador de ratos.
Dizer que a profissão foi extinta é desprezar os agentes anti-praga, ou dedetizadores modernos.
Em certos casos, são chamados exclusivamente para exterminar ratos, mas no passado, era comum contratar os serviços de caçadores de roedores que, com seu equipamento e know how, entravam em sótãos, porões, bueiros, sistemas de esgoto, atrás dos temíveis ratos.
Durante a Primeira Grande Guerra, com a escassez de alimentos, os especialistas encontraram uma segunda fonte de renda, comercializar os ratos para serem comidos.
7. Acendedor de lampiões.
Antes do surgimento implantação das linhas elétricas, a luz das ruas públicas provinha de lampiões.
No Brasil, apenas grandes centros urbanos contavam com o benefício, que exigia um profissional incumbido de acender, diariamente, as grandes lamparinas no alto dos postes (o mesmo era incumbido de apagá-los pela manhã).
Os lampiões eram acesos com grandes varas, acesas na ponta, ou trazendo para baixo a lamparina (içando para o topo do poste depois de acesas).
Na Europa foi sempre uma profissão assalariada, mas por aqui, além de profissão, era comum a realização do serviço por escravos a serviço de algum poderoso da região.
8. Operador de telefonia.
As centrais telefônicas eram comuns até a gradual digitalização do serviço, por volta da década de 80.
Apesar de ainda existir a profissão de telefonista, que realiza o primeiro atendimento em uma empresa de grande ou médio porte, fazendo a distribuição da chamada para o ramal desejado, a função está em extinção, sendo substituída pelas centrais digitais, com gravações de secretárias-eletrônicas.
Mas a profissão já extinta diz respeito às centrais encarregadas de “completar a ligação”, realizando chamadas interurbanas e internacionais.
No Brasil, como em quase todo o mundo, o serviço era realizado por uma empresa pública, a TELEBRÁS e suas subsidiárias regionais, como a TELESP, a TELERJ, a TELEMIG, etc.
9. Coletor de cadáveres para universidade.
Aqui não se pode, categoricamente, chamar a atividade de profissão, visto que era ilegal.
Sempre foi difícil a obtenção de corpos humanos para pesquisa científica, mas o ensino de medicina (um dos ramos mais antigos da ciência e das primeiras profissões certificadas e legitimadas pela instituição universitária) exigia esse material para aprendizagem e aperfeiçoamento no conhecimento.
Assim, era comum a “contratação” dos serviços clandestinos dos “ressuscitadores”, que se encarregavam de invadir cemitérios públicos, fundos de igrejas em busca de covas para desenterrar cadáveres.
10. Leitor para entreter trabalhadores da indústria.
Parece incrível, mas era um cargo comum em grandes e pequenas fábricas, pessoas para ler jornais, revistas, ou mesmo livros inteiros ao longo da jornada de trabalho, como forma de fornecer melhores condições de trabalho, aliviando o tédio das atividades repetitivas a que os funcionários eram encarregados.
A atividade começou a se popularizar no início do século, embora já houvesse registro desse tipo de função na Inglaterra em meados do século XIX.
Os profissionais eram colocados em uma altura acima dos demais, para que sua voz se sobrepusesse.
Normalmente o leitor profissional era contratado não pelo dono da indústria, mas pelos funcionários.
Fonte: Internet/ Revista alemã Whudat