Autoridades turcas não esclareceram o que motivou proteção policial a Hatice Cengiz.
Ela disse que esperou por horas pelo noivo, Jamal Khashoggi, mas ele não saiu de consulado em Istambul.
Autoridades turcas colocaram a noiva do jornalista Jamal Khashoggi, assassinado no consulado saudita em Istambul, sob proteção da polícia 24 horas por dia, afirmou a agência estatal de notícias Anadolu neste domingo (21). Residente nos Estados Unidos e colunista do Washington Post, o jornalista desapareceu em 2 de outubro depois que entrou no consulado para obter documentos para seu casamento com a noiva, Hatice Cengiz.
Por semanas, a Arábia Saudita negou conhecimento sobre o que aconteceu com o jornalista, inicialmente alegando que Khashoggi saiu do edifício.
Contudo, no sábado (20), Riad afirmou que ele foi morto em uma briga no consulado.
O ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel bin Ahmed Al-Jubeir, afirmou neste domingo que a morte do jornalista foi um “grave erro”.
O gabinete do governo de Istambul colocou Cengiz, uma cidadã turca, sob proteção policial 24 horas, informou a Anadolu. Autoridades não responderam pedidos de comentário sobre o que gerou a decisão de dar a ela proteção policial.
No dia em que Khashoggi desapareceu, Cengiz esperou 11 horas por ele do lado de fora do consulado e, quando ele não retornou, ela entrou em contato com autoridades conforme ele havia instruído a ela, disse Cengiz.
Depois que a Arábia Saudita confirmou a morte do colunista, ela escreveu no Twitter em árabe: “Eles levaram seu corpo deste mundo, mas seu lindo sorriso vai ficar no meu mundo para sempre.”
Neste domingo, a Turquia prometeu revelar a “verdade nua e crua” sobre a morte do jornalista.
“Estamos à procura de justiça aqui e isso será revelado em toda a sua verdade nua e crua, não através de alguns passos comuns, mas em toda a sua verdade nua e crua”, disse o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que prometeu uma declaração sobre o tema na próxima terça-feira (23).
Explicações
Adel bin Ahmed Al-Jubeir disse, em entrevista à Fox News, que o príncipe saudita Mohammed bin Salman não foi informado sobre a operação que resultou na morte do jornalista, não autorizada pelo regime.
Al-Jubeir também prometeu à família da vítima que os responsáveis serão punidos.
“Isso foi um erro terrível.
Isso é uma tragédia terrível.
Nossas condolências para eles.
Sentimos a dor deles”, destacou.
“As pessoas que fizeram isto, fizeram fora do alcance de sua autoridade.
Obviamente, um erro sério enorme foi cometido e o que agravou foi a tentativa de acobertar”, disse.
O ministro acrescentou que não sabe onde está o corpo do jornalista.
“Não sabemos, em termos de detalhes, como aconteceu.
Não sabemos onde está o corpo”, disse o chanceler, antes de destacar que o procurador saudita ordenou a detenção de 18 pessoas, “o primeiro passo de uma longa jornada”.
Al-Jubeir ressaltou, ainda, que o rei Salman “está determinado” que os responsáveis pela morte do jornalista “prestem contas”.
“Isto é inaceitável em qualquer governo.
Infelizmente, estas coisas acontecem.
Queremos garantir que os responsáveis sejam punidos e queremos assegurar que temos procedimentos estabelecidos para evitar que vote acontecer.”
Exigência de provas
De acordo com a agência EFE, o Reino Unido, França e Alemanha afirmaram neste domingo que a versão que a Arábia Saudita forneceu sobre a morte do jornalista Jamal Khashoggi precisa se respaldada por fatos para ser crível.
“Ainda existe a necessidade urgente do esclarecimento do que ocorreu exatamente em 2 de outubro – data na qual Khashoggi desapareceu depois de entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul para fazer trâmites oficiais – , além das hipóteses colocadas até agora pela investigação saudita”, afirma a nota conjunta.
No texto, Reino Unido, França e Alemanha ressaltam que a confirmação da morte “violenta” de Khashoggi representa uma “comoção” e que o caso é condenado “nos termos mais enérgicos possíveis”.
“Precisamos de mais esforços para estabelecer a verdade de uma maneira completa, transparente e crível.
Defender a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa são prioridades da Alemanha, do Reino Unido e da França.
As ameaças, os ataques e os assassinatos de jornalistas, em qualquer circunstância, são inaceitáveis e provocam grande preocupação nas nossas três nações”, diz o comunicado.
O ministério saudita da Informação afirmou que as pessoas que interrogaram Khashoggi, que tinha 59 anos, tentaram “ocultar o que aconteceu”, sem entrar em detalhes.
Mas as explicações não são suficientes para os países que expressaram preocupação com o destino do jornalista.
De acordo com fontes turcas, Khashoggi foi torturado e assassinado brutalmente por agentes sauditas que viajaram com este objetivo de Riad.
De acordo com vários jornais turcos, o corpo do jornalista, colaborador do Washington Post, teria sido desmembrado.
No sábado, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusou a Arábia Saudita de mentir sobre a morte de Jamal Khashoggi.
“Obviamente, houve decepção e mentiras”, disse em entrevista ao Washington Post sobre as mudanças de considerações fornecidas por Riad.
Assim, Trump mudou sua posição de que a última explicação da Arábia Saudita sobre a morte do jornalista dentro de seu consulado em Istambul “era crível”, mas disse que ainda confiava na liderança do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.
Quem é Jamal Khashoggi?
Khashoggi sempre foi próximo da elite e dos príncipes sauditas, mas era um jornalista crítico do regime.
Ele vem de uma família conhecida no país. Seu avô era o médico do rei Abdulaziz Al Saud, que fundou o reino.
Nos anos 90, trabalhou como correspondente internacional cobrindo países como o Afeganistão, Argélia, Sudão e países do Oriente Médio.
Durante esse tempo, entrevistou diversas vezes o terrorista Osama bin Laden.
Nos últimos anos trabalhava como comentarista político e aparecia em canais árabes e internacionais.
Em 2017 ele decidiu mudar para os Estados Unidos, temendo por sua segurança, depois que o príncipe Mohammed bin Salman começou a combater dissidentes sauditas.
Ele tinha cidadania americana e colaborava para o jornal “The Washington Post”.
O que aconteceu com ele?
No dia 2 de outubro, Khashoggi foi ao consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, para pegar um documento para se casar com a sua noiva turca, Hatice Cengiz, enquanto ela ficou esperando na porta.
Uma imagem de câmera de segurança mostra ele entrando no prédio do consulado.
A polícia turca diz que não há registro da saída dele e autoridades turcas dizem que suspeitam que ele foi assassinado dentro do consulado.
A Arábia Saudita diz que ele saiu do prédio, mas não apresentou evidências.
Segundo a BBC, o jornalista esteve no consulado saudita em Istambul pela primeira vez em 28 de setembro, para obter um documento certificando que havia se divorciado da ex-mulher, mas foi informado na ocasião de que teria que voltar outro dia.
Khashoggi marcou o retorno para 2 de outubro e chegou às 13h14 no horário local – o compromisso estava marcado para as 13h30.
Ele teria dito a amigos que havia sido tratado “muito cordialmente” em sua primeira visita e assegurou a eles que não enfrentaria qualquer problema.
Apesar disso, ele deu a sua noiva turca Hatice Cengiz dois telefones celulares e disse a ela que ligasse para um assessor do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan (que, segundo o “New York Times”, é amigo pessoal de Khashoggi), se ele não voltasse.
Hatice esperou por mais de 10 horas fora do consulado e retornou na manhã do dia seguinte, uma quarta-feira, e Khashoggi ainda não havia reaparecido.
Fonte: G1