Tudo o que vive, morre…e tudo o que morre, renasce.
O nascimento também é uma morte: a morte da condição do útero.
A infância é a morte do bebe.
A adolescência é a morte da criança…
É quando chega a puberdade e outras transformações.
A idade adulta é a morte da juventude, seus prazeres, sua revolta, seus sonhos, seu despojamento.
A velhice é a morte da idade adulta.
A morte do corpo físico é o fim da vida e o início de uma outra forma de vida ainda incompreensível para nós.
A morte não é um fim, mas sempre uma transição, seja no sentido orgânico, seja no sentido emocional, seja no sentido da ascese.
Deixar o passado morrer é essencial para que o nascimento possa ocorrer no presente.
Há sempre uma morte e um nascimento ocorrendo a todo momento.
Cada expiração é uma morte e cada inspiração é um nascimento que consolida a continuidade da vida no corpo físico.
Nossas células morrem a cada segundo, fazendo outras nascerem e garantindo a perpetuação do existir orgânico.
Em sete anos todas as células do nosso organismo já morreram e renasceram.
Você já é completamente outro, apesar de ser a mesma pessoa.
A semente morre para deixar que a plantinha nasça.
A lagarta morre para fazer nascer a borboleta.
Os idosos morrem para dar lugar aos mais jovens.
A primavera morre para dar lugar ao verão; o verão dá lugar ao outono e o outono morre e logo vem o frio do inverno.
O inverno também morre, para abrir espaço a uma nova primavera.
A fruta morre e cai da árvore, para que suas sementes façam brotar uma nova árvore.
Tudo morre para dar lugar a outra coisa.
Tudo acaba para que algo possa não acabar.
O fim chega para que um novo início possa acontecer.
A vida se perpetua num constante morrer e renascer, finalizar e recomeçar, esgotar e renovar, perecer e novamente brotar.
A morte de um ente querido ou alguém que muito amamos pode também provocar uma morte interior, uma morte emocional, bastante difícil de superar.
Essa morte nos obriga a rever nossa vida e a renascer, caso se queira manter nossa saúde mental e psíquica.
A morte de um relacionamento também pode nos fazer morrer um pouco por dentro.
A separação é uma morte terrível para muitos.
A saída de um filho de casa é outra forma de morrer.
Essa morte interna pode ser mais ou menos devastadora dependendo do grau de afeto, valor ou vitalidade que doamos ao outro, ao relacionamento ou a algum desejo, sonho ou situação.
Vivemos 30 anos com o outro, e quando ele parte, não conseguimos mais viver.
Nossa vida estava tão atrelada a vida do outro que morremos um pouco quando nosso relacionamento morre.
O abandono é outra forma de morte, quando somos rejeitados por outra pessoa.
A expectativa e a frustração é outra forma de morrer.
É preciso entender que toda morte traz sempre uma possibilidade de vida nova… e não um fim, um encerramento de algo.
Morrer é terminar uma coisa e iniciar outra.
Morrer é deixar o passado e fazer nascer o presente, o agora, em nossa existência.
Morrer é decretar o fim de uma fase de nossa vida e abrir o coração para o surgimento do diferente, da novidade, da renovação, da revisão, da vida em um outro nível de sentir, pensar e existir.
Se você vai morrer ou renascer depende sempre para que lado você vai olhar.
Você pode lançar os holofotes para o que foi, para o que já morreu…e morrer junto com o que não existe mais.
Ou então você pode deixar o sol bater sobre o novo, sobre o espaço aberto pela morte; lançar o olhar sobre o que vem, sobre o que se abre, sobre o inédito, sobre o desconhecido que tanto tememos, sobre a regeneração de nós mesmos.
Você já morreu muitas vezes e renasceu em todas elas.
Morre apenas quem fica preso ao que passou.
Morre quem não quer largar o antigo…
E vive aquele que sabe deixar passar o que, em verdade, já foi.
Morre aquele que não quer largar o que tem que acabar…
Morre quem não admite perder o que já não mais se possui, ou talvez nunca tenha possuído.
Dessa forma, morra e deixe morrer…
No entanto, siga o fluxo da vida, desapegue-se, desprenda-se, solte o que já foi…
E deixe sua vida renascer.
(Autor: Hugo Lapa)