A porta giratória da agência bancária trava.
O cliente, impaciente, começa a esvaziar os bolsos: chaves da casa, do carro, celular, óculos.
Toda semana esse senhor cumpre o mesmo ritual: toma um café na lanchonete em frente à agência, depois vai pagar contas e sacar dinheiro.
O segurança sabe o nome dele: Frederico Silva.
Mas o senhor Frederico Silva não sabe o nome do segurança, nunca olhou para ele, nem sabe que sua vida já foi salva por aquele homem em quem ele nunca reparou.
Era uma quarta-feira abafada.
Depois de sair da lanchonete, o senhor Frederico atravessou a rua e foi seguido por um homem.
O segurança notou que o desconhecido olhava nervosamente para os lados e mantinha a mão direita na jaqueta.
Estranhou o uso de uma jaqueta tão pesada naquele calor intenso.
Algo muito forte aguçou os sentidos do vigilante.
Uma voz interna lhe dizia que havia um grande perigo ali.
Quando o senhor Frederico entrou na agência, o segurança deu o alarme para os colegas.
Eles travaram a porta giratória no exato momento em que o estranho fazia menção de entrar.
Agrupados em frente à entrada, formaram uma barreira humana.
O rapaz compreendeu que suas intenções haviam sido descobertas.
Sorriu maliciosamente, deu meia volta e saiu andando pela rua, como se nada tivesse acontecido.
Naquele dia, o senhor Silva foi alertado pelo gerente de que estava sendo seguido, que deveria mudar sua rotina e seus hábitos, por motivo de segurança.
Ele agradeceu, ignorando que um homem de quem ele sequer sabia o nome é que o havia salvo de um iminente latrocínio.
Durante nossa vida, somos frequentemente respaldados e auxiliados por pessoas de quem desconhecemos a identidade.
São invisíveis.
Passam despercebidas.
Fazem seu trabalho silenciosamente e usufruímos disso sem nos darmos conta de sua importância.
Constantemente, cruzamos com elas, mas não as vemos.
Geralmente associadas a tarefas pesadas, braçais, serviçais, costumam ser ignoradas.
Muitas vezes, até humilhadas e menosprezadas.
No entanto, sem elas a vida seria muito diferente.
Provavelmente seria inviável.
Quando nos conscientizamos de que não somos autossuficientes e necessitamos de uma rede de pessoas cujas existências se interligam com a nossa, mesmo que elas não façam parte de nosso núcleo familiar ou círculo de amizade, devemos erradicar de nós o orgulho, o sentimento de superioridade, de arrogância.
Se hoje somos servidos, amanhã poderemos estar em posição de servir.
Lembremo-nos de ter gratidão por todos os que trabalham sem serem vistos, sem quase nunca receberem os créditos pelas tarefas executadas.
Eles podem ser invisíveis para a maioria das pessoas, mas não o são para alguém muito maior do que todos nós.
(Redação do Momento Espírita)