A Cura de Nossas Feridas Interiores
Um homem sofreu um acidente e ficou com ferimentos graves em suas duas pernas.
Por esse motivo, começou a andar sempre com duas muletas.
O tempo passou e o homem acabou se acostumando com as muletas.
Utilizava ambas em todos os momentos de sua vida.
As muletas estavam sempre com ele.
O homem acostumou-se tanto com as muletas que praticamente elas passaram a fazer parte dele mesmo.
Sua esposa sempre o advertia sobre isso.
Ela dizia que era preciso iniciar um tratamento médico em suas pernas, para que ele não precisasse mais das muletas e pudesse caminhar por si mesmo, tornando desnecessário qualquer tipo de apoio.
O homem, no entanto, não queria mexer em suas pernas, pois a lembrança do acidente foi algo muito traumático e lhe trazia emoções bastante dolorosas.
O tempo foi passando…
A esposa continuava insistindo que o homem cuidasse das feridas em suas pernas, ao invés de continuar usando as muletas.
O homem, como sempre, dizia que não…
Ele preferia continuar se apoiando em algo externo.
Apesar de criar muitas limitações, esse apoio era uma espécie de proteção contra a dor das lembranças do acidente.
No entanto, o homem passou por uma dramática crise econômica e não tinha mais dinheiro para quase nada.
Suas muletas já estavam velhas e enferrujadas.
Após alguns meses, ambas se quebraram.
Agora ele precisava comprar outras muletas, mas não tinha mais dinheiro…
O homem, já com idade avançada, estava sofrendo com muitas limitações.
Vivia deitado e estava deveras infeliz.
Após uma noite de intenso pranto, ele tomou coragem e decidiu que finalmente iniciaria um tratamento em suas pernas.
Assim, buscou o tratamento e depois de alguns meses, já estava podendo andar novamente.
O homem jogou fora as duas muletas e ficou muito feliz com sua realização.
Essa situação pode nos parecer estranha, mas a maioria das pessoas acaba enveredando por esse caminho.
As pessoas ficam com medo de tocar em suas feridas para trata-las, e por isso começam a buscar muitas muletas em suas vidas.
Em vez de cuidar das feridas internas, da carência, das mágoas, das decepções e do vazio que temos dentro de nós, procuramos toda sorte de muletas, de apoios externos para nos sustentar.
Pessoas solitárias podem usar os filhos como apoio emocional; pessoas carentes podem usar o marido ou a esposa como suporte interno; pessoas vazias podem usar o dinheiro como muleta, a comida como muleta, ou o sexo como muleta.
Pessoas perdidas de si mesmas podem utilizar a religião como apoio emocional, dentre vários outros apoios e suportes emocionais que o ser humano insiste em usar.
No entanto, o caminho mais correto seria primeiro tratar as feridas do nosso coração, curar o vazio interior, sarar as mágoas, as decepções e a nossa carência.
Assim, nenhuma forma de apoio externo seria mais necessária.
Seríamos livres de tudo, libertos de qualquer tipo de apoio que nos limita e que acaba atrofiando nossa alma.
Ao invés de usar uma série de apoios, amparos e ilusórios alicerces externos, trate de curar seu interior de todas as feridas, todo o vazio e toda a carência.
Dessa forma, confie apenas na força de suas próprias pernas, jamais em sustentos emocionais ilusórios.
(Texto de Hugo Lapa)