Não era só um cavalo…
Era um monumento vivo
Dos andarengos da Ibéria
Que mesclou em cada artéria
Do rubro sangue nativo
O ancestral primitivo,
– Cara limpa, lombo nu –
Que carregou o xirú
Pelas terras missioneiras
E que tombou nas fileiras
Das tropas de Tiarajú.
Não era só um cavalo…
Era a própria imagem
Do Rio Grande açoriano,
Que alargou meridianos
Pelas rotas de passagem,
Era o cavalo selvagem
Rasgando campo e fronteira
Perdido na polvadeira
Ou entre a chuva e o vento,
E que invadiu Sacramento
Com Dom Cristóvão Pereira.
Não era só um cavalo…
Era o esteio da lida,
Que a cada marcha tropeira
Se fez alma aventureira
Pra ofertar a própria vida,
E nesta saga sofrida
De desbravar o sertão,
Percorreu cada rincão
Desse Brasil continente,
Sustentando nossa gente
Pra erguer uma Nação.
Não era só um cavalo…
Era um herói da terra
Que a história não menciona,
E que o covarde abandona
No entrevero da guerra!
Que vendo a morte, não berra,
Porque engole o sofrimento
– Soldado sem regimento
Da velha estirpe proscrita –
Que foi garupa pra Anita
E montaria de Bento.
Não era só um cavalo…
Era o Rio Grande em pelo!
E no horizonte da incerteza
Enfrentou a natureza
Neste último atropelo,
Tostado sem marca e selo
Pelo-duro que se amansa,
Que na rédea é uma balança
E na vida é um regalo
Cavalo que é bom cavalo
Pro trabalho, e pras crianças.
E não era só um cavalo…
Era também um amigo,
E um amigo não fica pra trás…
(Osmar Ransolin)
(Essa poesia foi retirada da Ong Mi Au Juda – Um episódio em que um Cavalo ficou aguardando ser resgatado por dias na maior Enchente do Rio Grande do Sul)
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Grande beijo no coração
Bell-Taróloga