A onda de aparições de palhaços assustadores, que começou nos Estados Unidos e Inglaterra durante a noite e madrugada, chegou ao Brasil, em São Paulo, Suzano, Poá, Mogi e Arujá, no Estado de São Paulo, além de Rio de Janeiro e Goiânia, e traz preocupação para pais e crianças de Campinas, onde houve relatos de ações semelhantes no Taquaral, sem no entanto terem sido comunicadas à Polícia Civil. Para evitar que o medo domine as ruas, a equipe da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (CimCamp) garante que câmeras e guardas municipais estão atentos às atividades suspeitas como as relatadas, mas que até nesta quarta (12) à tarde nenhum registro tinha sido feito.
Palhaços sinistros chegam a Campinas
Na noite de quarta-feira, um internauta enviou ao WhatsApp do Correio uma foto de um palhaço que diz ter sido feita por um amigo na região do Taquaral. O amigo Jeferson Machado fez a postagem em uma rede social na noite de terça-feira, comentando que passou de carro e a pessoa fantasiada estava parada sobre a ciclofaixa. A publicação até a noite de ontem tinha quase 40 comentários, em que os internautas se dividem em relação à veracidade do fato. O Correio entrou em contato com Jeferson por telefone, porém ele não quis dar detalhes da situação. Uma postagem, dia 10, de outra internauta, desta vez no Twitter, dizia “Aquela pegadinha de palhaços que começou nos EUA já está em Campinas. Li vários depoimentos e um vídeo! SOCORRO”.
Com acesso cada vez mais frequente e interativo na internet, não é difícil encontrar pessoas receosas em relação à onda de palhaços sinistros na Lagoa do Taquaral, principal ponto de circulação no bairro onde teria havido aparições em Campinas. “Já vi na internet e quando vi fiquei com medo de ter aqui”, disse Guilherme de Assis, de 10 anos, que nunca gostou de palhaço e ainda não havia falado do receio com os pais.
Cruzar com um palhaço assustador também não será nada agradável para a recepcionista Bianca Fernandes, de 34 anos. “Tenho medo de palhaço assassino por causa do filme. É meio inconveniente”, opinou. Em São Paulo, um jovem afirmou ter visto um palhaço do mal no Parque das Águas, na Zona Leste, postando inclusive uma foto em rede social.
A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo informou que tem conhecimento dos relatos, mas garantiu não ter registrado qualquer ocorrência relacionada a palhaços malignos, lembrando que não é crime andar vestido de palhaço no Brasil. A equipe do 4º Distrito Policial de Campinas também não fez registros.
Além do medo em si do palhaço, que os mais velhos atrelam ao filme Palhaço Assassino (1989), a aparição resultou até mesmo em disparos de fuzil AR-15 para o alto na semana passada, na cidade de Bardstown, no estado do Kentucky, nos EUA. Os tiros foram dados por um homem depois que a companheira o alertou para a presença de palhaços “horrorosos” na rua. No mesmo estado, na cidade de Middlesboro, Jonathan Martin foi preso porque estava vestido de palhaço espreitando apartamentos. Segundo o site americano Heavy.com, foram registrados incidentes envolvendo palhaços em 40 dos 50 estados dos EUA, com aparições tanto em centros urbanos movimentados, como Nova York, quanto em regiões rurais.
Comportamento
Há quem afirme que a fantasia maligna do palhaço é motivada pela proximidade com o Halloween, Dia das Bruxas, celebrado no fim deste mês, ou associada a uma ação de marketing. A produção do filme de terror e remake It – A Coisa, no entanto já avisou que não tem ligação com as aparições nos EUA.
Para a psicóloga Rita Khater, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), o medo geralmente vem desde a infância, quando crianças mais tímidas acabam não sabendo lidar com o palhaço, que é caracterizado pela comunicação exagerada e pode insistir na abordagem. “Se a criança se assusta com o palhaço e o susto é lidado de uma maneira diferente, ela vai se familiarizar com a figura”, orienta. Rita considera a onda de palhaços malignos um comportamento social da banalização do terror e uma patologia social, como a pichação e o vandalismo. “É bastante sádico esse comportamento. Não é crime, não é uma patologia individual, mas com certeza é uma patologia social essa coisa de expandir o terror. Acho que tem outros comportamentos sociais mais úteis e agradáveis à sociedade”, diz. “A melhor forma de distinguir um comportamento desse é ignorar e ridicularizar a pessoa. Tem que diminuir a ação, porque quanto mais você reage, mais você reforça esse comportamento. Elas não buscam aprovação social, então se você ficar xingando, você está conversando”.
Palhaço de hospital há 15 anos e coordenador da Hospitalhaços em Campinas, Mario Eduardo Paes critica a forma como o trabalho do palhaço é distorcido. “Não tem nada a ver com o papel do palhaço, que é generoso, gentil, amável, inocente. Ele é uma figura milenar. A arte do palhaço vem há mais de 2 mil anos, com os bobos das cortes. Eles sempre foram figuras do bem. O propósito deles é tirar o sorriso das pessoas, no nosso caso transformar dor em sorriso, o que não tem nada ver com essa moda”, esclarece. Para Paes, a situação é um modismo do mal, que mesmo de forma cômica, não tem nada de engraçado. “Espero que seja uma moda muita rápida e repentina e que vá embora com a mesma rapidez que chegou. Além de ter consequências muito ruins para as pessoas, denigre a imagem do palhaço. Não são palhaços, são pessoas travestidas de palhaços. Para ser palhaço, é muita dedicação e muito estudo, não é só vestir a roupa e colocar o nariz”.
Fonte: Correio/Rac