A Terra se colocou entre o Sol e a Lua nesta sexta-feira, 27, ocasionando o eclipse lunar mais longo do século XXI.
A fase total do fenômeno começou às 16:30 (horário de Brasília) e teve duração de uma hora e 42 minutos, já que a lua passou próxima ao centro da sombra terrestre.
Durante essa fase, o satélite refletiu uma tonalidade avermelhada que lhe confere popularmente o nome de Lua de Sangue.
Do Brasil, foi possível ver o fenômeno em algumas cidades, no fim da tarde.
Para isso, foi preciso olhar para o horizonte, a leste.
Ainda que o aspecto mais chamativo do eclipse seja o espetáculo de sua cor, também é útil para que os cientistas possam conhecer melhor o estado da atmosfera terrestre, de acordo com Miquel Serra, astrônomo do Instituto de Astrofísica das Canárias (IAC).
O lógico, quando a Lua entra na sombra da Terra, seria que o satélite fosse invisível de nosso planeta.
“Nós a vemos porque a atmosfera terrestre produz dois efeitos sobre a luz solar”, afirma o especialista do IAC.
O primeiro é o fenômeno de refração, uma curvatura dos raios do Sol que rodeiam a Terra até chegar à Lua.
O segundo é semelhante ao que acontece durante um entardecer.
A atmosfera dispersa as cores mais energéticas da luz solar, como o verde e o azul, de maneira que somente os raios vermelhos chegam à superfície lunar.
“O resultado é uma Lua iluminada com tons acobreados, e é o mais espetacular”, diz Serra, que o considera “interessante e bonito porque a intensidade do vermelho não é conhecida até o início do fenômeno e depende do estado da atmosfera terrestre”, afirma.
A intensidade da cor vermelha da Lua nos indica o estado da atmosfera
A cor da Lua pode ser relacionada à poluição atmosférica, mas principalmente “pode nos falar do estado geral da atmosfera em um determinado momento”, afirma Miquel Serra.
A razão é que, além das partículas poluidoras, outros fatores intervêm como a presença de nuvens e de emissões vulcânicas em certas regiões do planeta.
“As partículas vulcânicas fazem com a tonalidade avermelhada aumente”, diz Antonio Pérez, divulgador científico especializado em astronomia e ciências do espaço.
Quantas mais existirem em suspensão na noite do dia 27, portanto, mais vermelha veremos a Lua eclipsada, como acrescenta o especialista.
Além disso, um aspecto muito interessante é que um eclipse lunar pode informar sobre o estado do buraco na camada de ozônio, que “parece estar relacionado a uma variação do tamanho da sombra terrestre”, diz Serra.
A equipe do IAC a que o astrônomo pertence foi até a Namíbia, onde o fenômeno pôde ser observado do começo ao fim. Lá, a ideia é calcular a cor da totalidade e anotar dados do tamanho da sombra lunar, que “varia de eclipse para eclipse a cada dois anos”, diz Miquel Serra.
O motivo principal que os levou à Namíbia foi, entretanto, a possibilidade de retransmitir em seu site o eclipse com tecnologia de alta qualidade para que o público possa observar o fenômeno de qualquer parte do mundo.
A África, o Oriente Médio e alguns países da Ásia central são os lugares onde o eclipse foi totalmente visível.
A Austrália só pode observar o início e a América do Sul, o final.
Em relação à Espanha, ficou visível o início da fase total.
O fenômeno completo durou 3 horas e 55 minutos se for levado em consideração o tempo de penumbra, ou seja, o momento em que a Lua passa pela área mais clara da sombra terrestre.
O eclipse quase coincidiu com a noite mais brilhante do planeta vermelho nos últimos anos, que será a de 28 de julho.
“São questões orbitais de Marte que não têm relação com o eclipse lunar”, frisa Antonio Pérez, “mas os dois fenômenos darão ao próximo fim de semana um grande interesse astronômico”, afirma.
Fonte: El País – Ciência