Criador da Bossa Nova foi velado no Theatro Municipal, no Centro do Rio, em cerimônia aberta ao público na manhã desta segunda-feira (8).
O corpo do cantor e compositor João Gilberto foi enterrado na tarde desta segunda-feira (8) no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde a família do artista tem um jazigo.
Antes de ser levado para Niterói, ao som de um coro de fãs, o corpo do cantor foi velado no Theatro Municipal do Rio, em uma cerimônia aberta ao público.
Por volta das 9h30, a viúva do músico, Maria do Céu Harris, de 55 anos, chegou ao local.
Bebel Gilberto chegou por volta de 11h50 e foi amparada por amigos.
Luisa Carolina, a filha mais nova de João Gilberto também esteve no velório do pai junto com a mãe, a jornalista Claudia Faissol.
Às 10h, o velório foi aberto para que os fãs pudessem se despedir do músico.
Por meia hora durante a manhã, a cerimônia ocorreu apenas para familiares e amigos.
João Gilberto morreu em casa, no sábado (6), aos 88 anos.
Ele foi um dos criadores da Bossa Nova.
O músico enfrentava problemas de saúde havia alguns anos.
Amigos e fãs se despedem
A cantora Adriana Calcanhoto, que já gravou uma versão de “Bim bom”, também prestou sua homenagem.
“Se o João Gilberto não existisse, se não tivesse inventado aquela batida de violão, eu não existiria.
Ele representa o Brasil no que existe de melhor.”
Fã do compositor, a médica Fernanda Maia Carvalho está passando férias no Rio, mas fez questão de ir ao velório prestar sua homenagem.
“Somos de Recife e estamos de férias no Rio.
Soubemos da morte dele aqui.
É estranho porque, para mim, nada representa melhor esta cidade que a Bossa Nova, o estilo que ele criou.
É uma pena, uma perda imensa”, lamentou.
A cantora Teresa Cristina também lamentou a morte do músico:
“Hoje perdemos um gigante.
Um músico que influenciou muitas das pessoas que me influenciaram.
Em tudo – da batida de violão à maneira mais descansada de cantar.
Ele está em tudo.”
Em Portugal, o cantor Caetano Veloso, celebrou o talento de João Gilberto durante um show ao lado dos filhos.
“É só tristeza; e a melancolia; Que não sai de mim; Não sai de mim, não sai”, cantou Veloso.
Ao sair de casa para ir o velório, a companheira do músico, Maria do Céu, se emocionou ao lembrar de João.
“Eu quero que o Brasil faça silêncio para ouvir João Gilberto.
Que os brasileiros ouçam mais João Gilberto”, disse Maria, chorando.
Trajetória de João GIlberto
João Gilberto nasceu em Juazeiro, na Bahia, em 10 de junho de 1931.
O governo do estado declarou três dias de luto pela morte.
Depois de alguns anos morando em Aracaju (SE), onde passou a tocar na banda escolar, voltou à sua cidade-natal e, aos 14 anos, ganhou o primeiro violão do pai.
João Gilberto Prado Pereira de Oliveira concluiu em 1961 a trilogia de álbuns fundamentais que apresentaram a bossa nova ao mundo: “Chega de saudade” (1959), “O amor, o sorriso e a flor” (1960) e “João Gilberto” de 1961.
O álbum que marcou o início do gênero em 1959, “Chega de saudade”, traz a música de mesmo nome composta por Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980).
A canção havia sido apresentada em um LP em abril de 1958 por Elizeth Cardoso (1920-1990), mas a versão mais conhecida, com a voz de João, foi lançada em agosto do mesmo ano.
Começo de carreira
Por volta dos 16 anos de idade, abandonou os estudos para se dedicar à música após se mudar para Salvador (BA).
Anos depois vai para o Rio de Janeiro, ao ser convidado para fazer parte do grupo Garotos da Lua.
Ao deixar o grupo, chegou a gravar alguns singles, ainda antes de criar a batida característica da bossa nova, mas não conseguiu sucesso.
Depois de algum tempo dedicado ao estudo de harmonia na música, percebe que ao cantar mais baixo e manter a batida poderia adiantar ou atrasar o canto.
Esse novo tempo criado foi o responsável por encantar o compositor Roberto Menescal, que o apresentou a pessoas como o produtor musical Ronaldo Bôscoli.
Tom Jobim viu neste novo estilo uma forma de modernizar o samba ao simplificar seu ritmo, e resolveu apresentar o João uma música que tinha escrito com Vinicius de Moraes mas que estava encostada, “Chega de Saudade”.
Bossa no exterior
João foi um dos representante da bossa nova fora do Brasil.
Em 1962, foi um dos destaques de show patrocinado pelo governo brasileiro no Carnegie Hall, uma das principais arenas de Nova York, em uma tentativa de popularizar o gênero nos Estados Unidos.
Pouco depois, gravou o disco Getz/Gilberto com o saxofonista de jazz americano Stan Getz, que se tornou um dos grandes clássicos de sua carreira.
O álbum se tornou um dos mais vendidos de 1964, com 2 milhões de cópias, e ganhou quatro prêmios Grammy, o maior da música mundial.
A produção de João foi objeto de uma disputa judicial em 2018.
A defesa do cantor pedia uma revisão no valor de uma indenização da gravadora EMI Records, hoje controlada pela Universal Music.
Em 2015, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) proibiu a empresa de vender os discos do artista sem seu consentimento.
A Universal não comenta o caso.
Depois da consagração, lançou criações próprias e seguiu com shows e discos que se tornaram obras de arte, como é o caso de “Amoroso”, álbum gravado nos Estados Unidos entre 1976 e 1977 sob o selo Warner Music.
O álbum foi relançado no Brasil em formato longo durante os festejos dos 60 anos da Bossa Nova.
O álbum celebra o encontro harmonioso do artista brasileiro com o maestro alemão Claus Ogerman (1930 – 2016).
Fonte: G1