Desavença familiar
“É nas famílias onde costumam se reunir os inimigos do passado”.
(Chico Xavier)
O líder de movimentos da década de 60 e Prêmio Nobel da Paz que buscava o respeito aos direitos dos negros e o fim da discriminação e segregação racial nos EUA, Martin Luther King, dizia: “Nós aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos ainda a conviver como irmãos; o amor é a única força capaz de transformar um inimigo num amigo”.
Suas palavras servem de reflexão para todos, pois tivemos grandes avanços tecnológicos, científicos e materiais; porém, isso não ocorreu na mesma proporção no convívio pacífico entre os seres humanos, principalmente, no lar, dentro das famílias.
No meu entender, dentre todos os relacionamentos, a relação familiar é o mais importante. Mas por quê?
Porque na vida tudo passa: emprego, poder, prestígio, status, dinheiro, mas o que permanece com você é a sua família, principalmente, nos momentos difíceis da vida, ou mesmo na velhice.
Onde você renova as suas energias antes de ir para o trabalho, ou nos momentos de lazer?
Onde fica o seu Porto seguro?
A quem você recorre quando fica doente ou em crise?
É fundamental, portanto, assegurar um ambiente familiar agradável e saudável.
Mas, lamentavelmente, o que observo com os meus pacientes e nos noticiários, são fartas reportagens envolvendo desavenças familiares que, muitas vezes, acabam em tragédias, em assassinatos.
Por que há famílias que se dão muito bem, enquanto que em outras estão sempre em pé-de-guerra, um verdadeiro barril de pólvora, prestes a estourar a qualquer momento?
Muitos acreditam que família é o resultado de um mero encontro fortuito, onde seus membros estão juntos por acaso.
Acreditam, portanto, que uma família que se dá bem, cujo ambiente em geral é harmonioso, é porque os seus membros são pessoas sensatas, equilibradas e civilizadas; agora, se o ambiente familiar é carregado de conflitos, brigas constantes, pautadas na maior parte do tempo em agressões, desrespeito e desentendimentos, é porque essa família é imatura e desequilibrada.
Tais explicações, em parte fazem sentido, mas, ainda assim, é um pensamento reducionista e simplista.
Por isso, é preciso ampliar a visão de família dentro de uma ótica reencarnacionista.
Não foi por acaso que o grande médium Chico Xavier afirmou: “É nas famílias onde costumam se reunir os inimigos do passado”.
Ao usar a expressão “inimigos do passado”, ele estava se referindo aos desafetos de outras encarnações, os quais prejudicamos.
Neste aspecto, a família não é o resultado de um mero encontro fortuito, onde todos estão juntos por acaso.
E também não é por acaso que ocorrem conflitos, discórdia no lar.
Na verdade, todos estão juntos por afinidades cármicas, ou seja, por terem se prejudicado numa existência passada.
Desta forma, a família atende a uma finalidade clara que é proporcionar a todos um aprendizado, uma grande oportunidade – através da convivência – de transformar laços de ódio em amor.
É o que constatei em meu consultório, após ter conduzido mais de 20.000 sessões de regressão com a TRE (Terapia Regressiva Evolutiva) – A Terapia do Mentor Espiritual, abordagem psicológica e espiritual breve, criada por mim em 2006.
Nesta terapia, é comum o mentor espiritual do paciente (ser desencarnado de elevada evolução espiritual, responsável diretamente pelo nosso aprimoramento espiritual) lhe revelar que ele e sua família estão presos, amarrados por um laço antigo de brigas, discórdias, ódio, desamor e desunião, que se repete em várias encarnações; portanto, esse laço tem que ser desfeito, caso contrário, a vida de todos não irá deslanchar.
E para ser desfeito, a chave da libertação é a reconciliação, o perdão de todos os envolvidos.
Mas de todas as relações familiares, há uma que é a mais forte, mais visceral, que é a relação mãe e filho.
Explica o motivo do porque da providência divina levar dois inimigos de uma vida passada reencarnar justamente como mãe e filho.
Na maternidade, a mulher gera de seu ventre, de suas entranhas, um pequeno ser e, nessa relação, as condições tendem a ser mais propícia para que ambos – outrora desafetos do passado – se amem e se reconciliem.
Já presenciei uma paciente regredir ao útero materno e identificar a sua mãe como uma inimiga que tirou sua vida numa existência passada e, por conta disso, se recusar, dificultar ao máximo o seu nascimento.
Mas, após ser orientada pelo seu mentor espiritual de que ela veio na vida atual para se reconciliar com o seu desafeto (mãe), a relação com sua mãe melhorou consideravelmente. Mas por quê?
Através do amor, da reconciliação, o laço de ódio que as unia foi rompido.
Caso Clínico: Desavença familiar.
Mulher de 42 anos, casada, três filhos.
Veio ao meu consultório, uma mulher desesperada, queixando-se que não aguentava mais sua vida, e que havia procurado todo o tipo de ajuda.
Assim me relatou na entrevista de avaliação: “Conheci o meu marido na Faculdade de Medicina, ele era professor, e eu residente, foi paixão à primeira vista; em 3 meses, estávamos morando juntos, e aos 6 meses, casamos.
Não queríamos filhos naquele momento, pois pensávamos apenas em nossas profissões.
Um ano depois, veio o primeiro filho, mas foi muito bem-vindo.
Compramos uma casa nova, a gravidez foi maravilhosa.
Nasceu um menino, lindo, saudável.
E dois anos após, veio uma menina; estava indo tudo bem, tinha até medo de ser um sonho.
Daí veio a terceira filha.
Estava tudo completo: um casamento maravilhoso, ainda estávamos apaixonados, 3 filhos lindos, perfeitos, inteligentes.
Tínhamos uma clínica, dávamos aulas em uma Universidade e fazíamos de tudo para os nossos filhos terem do bom e do melhor.
Mas não percebia que havia algo de errado: minha empregada me alertou dizendo que o meu filho era muito quieto, demonstrava muita raiva do pai, principalmente quando eu não estava.
Meu marido nunca tinha percebido nada, achava que era coisa da idade.
Meu filho trouxe sua primeira namorada em casa para jantar.
Ficamos muito felizes, era uma moça muito bonita, de uma boa família, mas, nesse dia, meu filho disse uma coisa que nos chocou muito.
Disse ao meu marido: – Não olhe para a minha mulher, seu velho!
Eu e meu marido ficamos horrorizados, não era o nosso filho.
Ele fazia questão de trazê-la em casa e ficavam na piscina.
Meu marido não podia nem passar no jardim que o meu filho partia para cima dele.
Daí começaram as agressões físicas, foram vários boletins de ocorrência na delegacia; ele estava irreconhecível. Nossa vida virou um inferno, saí da Universidade para ficar mais em casa, pois ele estava agressivo com todos, era cínico, inventava mentiras, fazia muita confusão.
Bebia muito, trazia mulheres para dentro de casa, até que o meu marido não aguentou mais e acabou espancando o meu filho até ele desfalecer.
Em seguida, chamou o caseiro e o expulsou para fora de casa.
Já nesse ponto, não tínhamos mais vida, minhas filhas estavam estressadas, brigávamos, gritávamos por nada, enfim, tudo era motivo para as acusações em casa.
A minha filha mais nova, também começou a beber e a fumar maconha com o namorado; a do meio está grávida, e não sabemos quem é o pai.
Para piorar a nossa situação familiar, eu e o meu marido não nos olhamos mais nos olhos, pois não o vejo mais como o meu esposo.
Por favor, Dr. Osvaldo, me ajude! (paciente pede chorando copiosamente).
Esperei que ela se acalmasse, e lhe disse que toda sua família teria que passar pelo tratamento, mas só o marido e a esposa vieram.
As sessões de regressão da esposa foram tranquilas, sem muito que desvendar, porém, as sessões do marido tiveram muitas revelações.
Logo na primeira sessão, ele viu, numa vida passada, uma vila com várias cabanas, casas feitas de palha, e assim me relatou: “Dr. Osvaldo, vejo essa vila, parece que sou o chefe desse lugar, minha casa fica no centro da vila, é grande, há várias mulheres em volta. Vejo um rapaz que me olha com raiva”.
– Veja o porquê dessa raiva? – Peço ao paciente.
“ Eu violentei a mãe dele e, desse estupro, ele nasceu.
Ele tem raiva de mim porque a mulher que violentei não fazia parte das minhas mulheres e, com isso, ela ficou desamparada, não conseguia casar.
Ela não podia dizer às pessoas que tinha sido eu, mas acabou contando ao filho que eu tinha feito essa monstruosidade, que eu a estuprei.
Vejo nos olhos dele muito ódio, ele quer me matar.
Ele se mostra ser muito forte, um excelente caçador, e eu mesmo ordeno para que ele vá atrás das caças, sempre pensando que ele não voltaria mais; no entanto, passou-se vinte dias, ele voltou com a caça, e o pior aconteceu: novamente violentei uma moça, que era sua pretendente, e estavam prestes a se casarem.
Fiz de propósito para ele ver quem mandava naquela vila.
Fui muito covarde e acabei também tirando a vida dele, o matei pelas costas, atirando nele.
Depois dessa existência passada, encontramo-nos no Astral e pactuamos vir como família.
Ele dizia que tinha muita mágoa de mim, mas aceitou vir novamente como meu filho na encarnação atual.
Dr. Osvaldo, como pude fazer isso?”.
Nesse momento, sua esposa que estava acompanhando no consultório a sessão de regressão do marido, chora copiosamente, revela que tem um pesadelo recorrente de ser estuprada, e que a persegue desde criança.
Começamos, então, a montar o quebra-cabeça, procurando entender o porquê de tudo aquilo.
A vida é realmente um grande jogo de quebra-cabeça, pois temos muitas indagações e poucas respostas, por conta do véu de esquecimento do passado.
Ele, o marido, tinha feito uma coisa horrível, prejudicando várias pessoas nessa vida passada; ela, a esposa, foi a primeira moça que foi violentada por ele; o rapaz, o filho bastardo, foi fruto daquela violência, e que também sentiu na pele o fato de sua noiva ter sido estuprada pelo próprio pai; depois, acabou sendo morto por ele pelas costas. (pausa).
“Dr. Osvaldo, estou vendo algumas luzes (seres espirituais de luz) aqui no consultório”, afirmou o paciente.
– Pede para que se identifiquem – Peço ao paciente.
“ Estão dizendo que são os nossos mentores espirituais: o meu, da minha esposa e dos meus filhos.
Estão todos aqui para nos ajudar.
Pedem para que eu peça perdão ao meu filho, à minha esposa e filhas, mas que faça isso de coração, com todo o arrependimento”.
Quatro meses após o tratamento, seu filho veio ao meu consultório para também fazer a terapia, pois me disse que seus pais haviam lhe contado do que descobriram nessa terapia e, por isso, precisava perdoar o seu pai.
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Créditos: Dr.Osvaldo Shimoda
E-mail: osvaldo.shimoda@uol.com.br