Análise Transacional – Parte 1
Uma teoria da personalidade e um método terapêutico eficaz para melhorar a qualidade das relações humanas.
Nós aprendemos a voar como os pássaros; a nadar como os peixes, mas não aprendemos ainda a conviver como irmãos.
(Martin Luther King)
O que é Análise Transacional?
A palavra transacional vem de transação.
Transação significa troca, isto é, um intercâmbio.
Neste sentido, uma transação comercial, por exemplo, implica numa troca ou intercâmbio de algo entre duas ou mais pessoas.
Dentro da Análise Transacional, por outro lado, a palavra transação significa comunicação, onde se dá uma troca, um intercâmbio de perguntas e respostas em que duas ou mais pessoas fazem entre si.
Ao estudarmos a palavra comunicação e separarmos as cinco primeiras letras e as quatro últimas se formarão as seguintes palavras: COMUM e AÇÂO, ou seja: COMUN IC AÇÃO.
Desta forma, para que ocorra uma boa comunicação, é preciso que exista uma ação em comum, isto é, algo em comum entre as pessoas.
Além de que, para que se efetive uma boa comunicação, é necessário estabelecer uma relação de confiança e de respeito mútuo entre os envolvidos.
Neste sentido, a Análise Transacional, abreviada para AT, constitui-se numa teoria da personalidade e num método potente de análise do comportamento humano que levam ao autoconhecimento e, consequentemente, a uma boa comunicação.
Esta técnica foi criada pelo Psiquiatra Canadense Dr. Eric Berne, no fim da década de 50.
Para que serve o autoconhecimento?
Pitágoras, um dos grandes sábios da humanidade, além de introduzir o termo filosofia, trouxe dos templos egípcios a máxima secular “Gnothi se auton” (conhece-te a ti mesmo), inscrita na entrada de sua escola e depois no templo de Apolo, em Delfos.
Quando perguntaram a Tales de Mileto, matemático grego do séc. V a. C, qual era a tarefa mais difícil para o ser humano, ele respondeu: “Conhecer-se a si mesmo”.
O grande psicanalista C.G. Jung dizia que “o consciente é uma pequena ilha rodeada pelo imenso mar do inconsciente”.
Através do autoconhecimento, portanto, você aprende a identificar o que precisa ser mudado em suas atitudes para se conviver melhor e ser uma pessoa mais agradável.
Caro leitor, como um exercício de autoconhecimento, procure responder a essas perguntas:
Você fica à vontade com as outras pessoas ou fica tenso?
Você é uma pessoa agradável ou desagradável?
Qual (is) a(s) queixa(s) que as pessoas fazem a seu respeito?
Você sabe lidar bem com suas emoções?
Você se conhece verdadeiramente?
Somos muito ignorantes a nosso respeito e com isso vamos ter uma comunicação deficiente.
Conhecemos as nossas casas, os nossos carros, mas muito pouco do nosso mundo interior, das nossas reações, atitudes, pensamentos e sentimentos.
Desta forma, conhecer-se a si mesmo é a chave para melhorar os padrões de comunicação e um instrumento para a melhoria das relações interpessoais.
Na verdade, toda nossa conduta, nossas atitudes, a forma de nos relacionarmos tem muito a ver com a nossa Personalidade (Mundo Interior).
Como é a teoria da Personalidade da Análise Transacional?
– Você conhece alguém que costuma ser crítico, autoritário, exigente, aponta um dedo acusativo aos outros, exatamente como o pai fazia com ele?
– Você conhece alguém que costuma ter surtos de fúria, é impaciente, quer que as coisas aconteçam do seu jeito tal como fazia quando criança?
– Você conhece alguém que ao invés de ficar se lamentando da falta de sorte, sentindo pena de si mesmo, ou culpando os outros diante de um problema, procura soluções sem perder seu tempo?
Se conhece gente assim, então você já viu as três partes da personalidade humana em ação que em Análise Transacional (AT) são chamadas de Pai, Adulto e Criança.
2º a AT, carregamos dentro de nós os nossos pais (ou outras figuras de autoridade, como os avós, tios, irmãos (as) mais velhos, professores), o adulto que somos e a criança que fomos.
Na verdade, a maior parte das pessoas funciona, isto é, age como seus pais de forma crítica, agressiva, impulsiva, medrosa, insegura, preconceituosa, ou de forma infantil como fazia quando criança, ao invés de agir como uma pessoa adulta, procurando se relacionar na base do diálogo, do entendimento na busca de soluções de forma equilibrada.
Em resumo, trazemos gravados em nossa estrutura de personalidade os pais que tivemos, aquele (a) menino (a) que fomos e um lado adulto, coerente, racional que busca resolver os problemas do dia-a-dia.
Essas três estruturas da personalidade se comunicam entre si, através de diálogos internos. Desta forma, para que haja uma boa comunicação, é necessário escutar os “ruídos internos”, ou seja, esse bate-papo que ocorre em nossas cabeças.
Neste aspecto, existem dois tipos de comunicação:
a) Intrapessoal (interno, consigo mesmo);
b) Interpessoal (externo, entre as pessoas).
Estamos na Era da Comunicação, isto é, da informação.
Portanto, só sobrevive no mercado aquele profissional que se adapta às mudanças e está bem informado e, portanto, atualizado.
Por outro lado, não basta só ter conhecimento técnico, é preciso saber se relacionar, ter competência interpessoal, ou seja, ser bem relacionado para que aumente o leque de oportunidades em sua vida.
Mas para isso, é preciso que você esteja bem consigo mesmo para estar bem com as pessoas.
Em outras palavras, é fundamental se comunicar bem consigo mesmo (comunicação intrapessoal) para se comunicar bem com os outros (comunicação interpessoal).
É por isso que nas entrevistas de seleção as empresas estão interessadas em saber qual o perfil de personalidade dos candidatos.
Desta forma, para que haja uma comunicação eficaz, entra o componente emocional, isto é, o controle emocional. Ou seja, você precisa saber lidar bem com suas emoções.
Através de seu controle emocional, vai interromper o diálogo interno que ocorre dentro de sua cabeça.
Quantas vezes você escutou uma voz interior, uma voz contrária que lhe diz que não adianta nem tentar porque você não é capaz, que é um fracasso?
Essa mesma voz costuma te lembrar que tudo que você começa não termina porque entra no desânimo, perde interesse, se desmotiva por ser imediatista, querer as coisas para ontem.
Portanto, dominar a sua ansiedade, seus medos, insegurança, preocupações, crenças autolimitadoras, enfim, superar os bloqueios emocionais de seu passado é o grande desafio.
É por isso que Buda dizia: “O Rei mais nobre de todos os reis é aquele que é capaz de se dominar”.
Para isso, é preciso se tornar mais lúcido, mais consciente através da prática do autoconhecimento e, na medida em que você se torna mais consciente, diminui o seu grau de ignorância, alienação a seu respeito.
Caso Clínico: Medo de se relacionar com as pessoas
Homem de 40 anos, solteiro.
O paciente veio ao meu consultório por conta de sua timidez e medo de se expor, de não conseguir se relacionar com as pessoas.
Procurava sempre se isolar em seu ambiente de trabalho.
Almoçava sozinho ao invés de acompanhar os seus colegas de trabalho.
Encontrava muita dificuldade em explanar o seu trabalho junto à Diretoria.
Ficava constrangido, tenso e muito ansioso ao ter que se expor em reuniões de trabalho.
Gaguejava ao ter que conversar com o seu chefe.
Sentia-se inferiorizado, não conseguia ficar à vontade na presença de seu chefe, embora este não fosse autoritário, nem exigente.
Não participava das reuniões sociais que o seu trabalho exigia, principalmente nos finais de ano.
Perdeu inúmeras chances de ser promovido, principalmente para exercer um cargo de mando por conta de sua inibição e de ser uma pessoa muito fechada e antissocial.
Ao regredir, ele se viu com 6 anos de idade, presenciando seu pai batendo em sua mãe.
Ele me relatou: “Quase todos os dias vejo o meu pai alcoolizado batendo em minha mãe.
Eu me sinto sozinho, desamparado, sem nenhum apoio porque só vejo a minha mãe apanhando, indefesa”.
Peço, em seguida, que o paciente regrida no momento de sua concepção para que saiba em que circunstância foi concebido pelos seus pais: “Vejo o meu pai fazendo sexo com minha mãe como se ela fosse um objeto.
Não existe carinho nem companheirismo entre eles.
Não a vejo satisfeita nesse relacionamento.
Há muita carência, ela tem medo de ficar sozinha.
No entanto, ficou feliz em saber que estava grávida”.
– Peço então para que ele vá para o 1º trimestre de gestação: “Minha mãe se anula, sempre atendendo os desejos de meu pai. É só o que vejo”.
– Vá agora para o 2º trimestre: “Não me sinto bem, sinto que atrapalho a vida de minha mãe na correria do dia-a-dia.
Ela continua anulando os seus sentimentos em detrimento dos caprichos de meu pai.
Ela parece uma escrava. Meu pai continua bebendo.
Não o vejo fazendo carinho na barriga de minha mãe.
Eu me sinto distante dele.
Ele não está nem aí!
Sinto que ele só fez engravidar a minha mãe”.
– Vá para o último trimestre, peço-lhe: “Minha mãe está chorando porque se sente pesada, não consegue fazer direito o trabalho doméstico e o meu pai só reclama e fala palavrão, xingando-a.
Ela quer que chegue logo o dia de meu nascimento para se livrar de mim.
Ela não aguenta mais aquele peso”.
– Peço para que ele vá para o momento de seu nascimento: “A minha mãe se sente aliviada.
Vejo-me agora nos braços dela.
Todo mundo está alegre, meus tios/as, avós… Só não vejo o meu pai”.
– Vá agora para a sua infância: “Eu me vejo esperando o meu pai me levar para passear.
Mas ele nunca me leva.
Ele está sempre brigando com a minha mãe ou encostado no bar, no balcão, tomando pinga.
Tenho 7 anos, não tenho irmãos, me sinto sozinho, desprezado.
Entretanto, fico sempre esperando o meu pai chegar do trabalho para me levar a algum lugar.
Eu precisava de alguém ao meu lado.
Na verdade, eu buscava um substituto para o meu pai.
Agora entendo porque eu fazia tudo o que os meus colegas de escola mandavam.
Sempre fui muito submisso, bonzinho e todos se aproveitavam de mim.
Eu mendigava atenção, carinho e companhia…
Agora me vejo com 16 anos.
Eu me sinto envergonhado, meio ridículo na hora de tirar a roupa nas aulas de natação.
Os meus amigos riam do tamanho do meu pênis.
Comecei então a prestar atenção nos órgãos genitais de outros rapazes.
Notei que o meu era menor que o deles.
A primeira garota com a qual transei falou que eu tinha um pênis pequeno e espalhou para as meninas do colégio.
Eu fiquei muito constrangido e inferiorizado.
Daí em diante fui me fechando, me escondia no vestiário nas aulas de educação física.
Eu me sentia menos homem, tinha dificuldades de me soltar e pensava: -Se me mostrar como sou as pessoas não vão me aprovar, vão ver que eu tenho alguma coisa errada.
Desde criança, o meu pai sempre me recriminava, me criticava, falava que eu não servia para nada, zombava de mim, dizia que eu era fraco, medroso.
Nunca me senti à vontade com o meu pai.
A presença dele me incomodava.
Agora estou entendendo o porquê desse medo de me expor, de hoje não confrontar as pessoas no âmbito profissional.
Vem sempre o pensamento: – Eles vão acabar descobrindo o meu problema sexual (pênis pequeno) e vão rir de mim.
Por isso, não me exponho muito.
Explica também porque sempre tive dificuldades de arrumar uma namorada”.
Após essa sessão de regressão, fizemos alternadamente sucessivas sessões de hipnoterapia para incutir no seu subconsciente palavras e frases sugestivas positivas para desprogramar seu sentimento de infelicidade e baixa autoestima.
Durante o tratamento, sugeri também que ele procurasse um médico especialista (urologista) para uma avaliação clínica em relação ao tamanho de seu pênis.
E realmente foi constatado que ele tinha um pênis desproporcional à sua estatura.
Paralelamente à terapia regressiva e hipnoterapia, o paciente se submeteu ao tratamento médico para aumentar o tamanho de seu órgão genital.
No decorrer da terapia, ele foi resgatando sua autoconfiança e autoestima, expondo-se mais em público.
E foi o que ele fez com sucesso, permitindo se relacionar com as pessoas, sem medo ou insegurança.
Ao término do tratamento, confidenciou satisfeito que estava namorando e que mudou de emprego passando a ganhar mais.
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Créditos: Dr.Osvaldo Shimoda
E-mail: osvaldo.shimoda@uol.com.br