A Influência da Família na Educação
Freud tinha boas razões para, há mais de 100 anos, atribuir às relações familiares um papel essencial para a formação básica das crianças, o que, de fato, se dá ao longo dos primeiros 5 anos de vida.
Naquele tempo as crianças não frequentavam a escola antes dos 6 anos de idade, conviviam essencialmente com seus pais, irmãos e outros parentes próximos.
Brincavam nas ruas, com crianças vizinhas pertencentes a famílias em tudo semelhantes às suas.
O mundo era outro; e mesmo nas grandes cidades era assim que se vivia.
Não existiam os recursos tecnológicos que hoje nos envolvem, de modo que o convívio humano era o que ditava aquilo que as crianças haveriam de aprender.
Além disso, a estrutura da família era bem definida e clara, sendo que ao pai cabia uma liderança inquestionável.
Os padrões de conduta eram bem rígidos, ao menos aos olhos das crianças.
Seus heróis eram seus pais, avós e eventualmente algum tio.
As famílias eram praticamente indissolúveis, de modo que não existiam estruturas alternativas de qualquer tipo.
Nos meus primeiros anos de infância, na década de 1940, o contexto em que eu vivi ainda era muito parecido com o que Freud descrevera, de modo que as tramas familiares ainda eram muito parecidas, reinando a inveja, os ciúmes, os triângulos amorosos …
Talvez as únicas novidades que já interferiam no cotidiano das crianças consistiam na crescente importância do cinema e do rádio.
A partir dos anos 1950 entramos na era da tecnologia marcada inicialmente pela chegada da televisão.
Afora isso, as escolas maternais levavam as crianças para um ambiente mais heterodoxo já aos 3 anos de idade.
Isso além do elo familiar ter se afrouxado a ponto das separações conjugais se tornarem cada vez mais frequentes.
No final do século XX, estávamos diante de um contexto completamente diferente: um número crescente de mulheres inseridas no mercado de trabalho – e não raramente em posições de destaque; as crianças, por isso mesmo, passaram a ir para creches ou escolas maternais aos 18 meses de idade; eram entretidas, além da televisão, por DVDs infantis de todo tipo, passaram a ter acesso direto aos recursos eletrônicos que só têm se aprimorado e sobre os quais elas, desde cedo, parecem deter um domínio quase natural.
Não espanta que a influência do modo de ser de cada família só tenha diminuído.
Isso afora o fato de que todos, inclusive os adultos mais atentos, passaram a sofrer o efeito do massacre de informações externas e que tem levado quase todo o mundo a viver de modo muito parecido, apesar da crescente liberdade individual: adultos e crianças estão sob total influência da publicidade e de toda sorte de meios de comunicação de massas.
Qual o peso da família e seus valores num contexto assim diferente daquele em que Freud viveu?
Difícil imaginar que se mantenha o mesmo.
Isso nos obriga a rever uma boa parte de suas concepções, atualizando-as à nossa realidade.
Os pais ainda influenciam muito o modo de ser de seus filhos?
Ainda são os seus heróis, aqueles a quem imitarão?
Acho cada vez menos provável que assim seja, salvo naqueles raros casos em que sejam efetivamente admiráveis.
As crianças de hoje são abastecidas de uma quantidade muito maior de informações vindas das mais variadas fontes.
Aos três anos de idade já sabem coisas que as de antigamente nem suspeitavam!
As crianças estão muito mais espertas e ocupam um espaço maior em suas famílias, onde não é rara a desestruturação interna e nas quais a autoridade masculina cada vez mais se esvai posto que as mulheres também são muito influentes; isso afora a influência enorme e precoce de tudo o que a cerca; o resultado é que o papel dos pais decresceu sobremaneira e as crianças crescem sob a influência de inúmeras outras variáveis, como regra mais relevantes do que as domésticas.
Penso em mais um fator que dilui ainda mais a influência da família: o fato do pai ter, como regra, um modo de ser e a mãe outro: um mais calmo, o outro mais estourado; um mais generoso e o outro mais egoísta…
A criança se vê exposta, em sua própria casa, a dois tipos de referencial e se identifica com um deles (se forem dois filhos, um será parecido com o pai e outro com a mãe).
A falta de unidade doméstica enfraquece ainda mais a influência familiar.
Minha experiência diz que quando o pai e a mãe são mais parecidos e afinados em suas condutas, a influência familiar ainda é bem relevante.
Em caso contrário, o resultado fica por conta do que a própria criança concluir e de todas as inúmeras influências externas.
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Créditos: Dr. Flávio Gikovate
www.flaviogikovate.com.br