Ora, você pode estar se perguntando, “como um ego saudável se torna ferido e se corrompe?”
O ego ferido toma forma quando acontece algo que o faz se sentir menos do que é – quando algo o ameaça, o agride, o repreende, o ignora, o rejeita, o molesta ou o abandona.
Existem dezenas de milhares de situações diferentes que simplesmente acabam se revelando dolorosas demais para o ego saudável digerir.
Quando a dor se torna insuportável, o ego saudável começa a se afastar da inteligência do ser integral e se torna uma força com a qual precisamos acertar as contas – é aí que nasce o ego ferido.
O ego um dia saudável, ávido para se dissociar dos seus aspectos corrompidos ou feridos, começa a empurrar para as sombras essas partes de si, na tentativa de fazê-las desaparecer.
Ele está certo de que, escondendo dentro de si as suas falhas e imperfeições, as suas inseguranças, os seus erros, a sua vergonha e as suas feridas, ninguém – nem ele próprio – descobrirá a verdade sombria e ele se manterá a salvo.
É assim que o nosso eu integral, inteiro, aos poucos se fragmenta.
Deixe-me dar um exemplo.
O seu ego saudável matricula você numa escola de administração de empresas, inflamado pelo desejo de se tornar um executivo de uma das melhores empresas do país, líder de mercado.
O seu ego saudável leva você a se destacar nas aulas, a aprender a defender os seus pontos de vista, a se instruir nos métodos administrativos mais modernos e inovadores e a analisar os profissionais mais bem sucedidos e que atingiram o topo da sua carreira.
Quando você se forma, é contratado por uma excelente empresa e começa a sua escalada corporativa.
Então um dia você percebe que muitos outros também acalentam o sonho de chegar ao topo (o ego sempre percebe a competição) e fica preocupado.
O seu ego saudável sente-se agora ameaçado com a constatação de que você pode não ter condições de ser bem-sucedido.
Esse pensamento dispara a vergonha oculta de que você pode não ser tão esperto quanto as outras pessoas.
De repente você percebe que não pode ficar de braços cruzados, esperando que a sua carreira deslanche naturalmente. Você precisa ir à luta, como dizem por aí.
Começa a prestar mais atenção ao que tem visto ou ouvido sobre como chegar ao topo e faz escolhas diferentes das que planejara – escolhas ditadas pela vergonha e baseadas no medo.
Talvez comece a se socializar com pessoas com quem não se sentia bem antes.
Talvez descubra que, se distorce um pouquinho a verdade, pode parecer mais eficiente aos olhos dos supervisores ou que, se “emprestar” as idéias de alguém, expondo-as como se fossem suas, pode ganhar uma promoção.
Embora você possa se sentir pouco à vontade com o que está fazendo, você racionaliza o seu comportamento, provavelmente de maneira inconsciente, e continua a percorrer o caminho do ego ferido em direção ao sucesso.
Depois de alguns dias, meses ou anos de conflitos, causados pela voz da consciência que pode estar sussurrando,
“Não faça isso” ou “ Você tem certeza de que isso é correto?”, você resolve não fazer caso dessa voz e ela de repente desaparece, para sempre enterrada.
O ego ferido invadiu as fronteiras do ego saudável e reivindicou o seu território.
A invasão do ego ferido
Quando o ego doentio sente um certo perigo, ele automaticamente procura uma distração, e se esforça para proteger o seu território, que agora corresponde a todo o seu ser.
Mesmo que ele comece sendo apenas uma parte do seu ser, devido à sua natureza enganadora e à sua incapacidade de distingui-la do seu eu autêntico, que abrange tanto o ego quando a sua essência eterna, ele se torna o único “você” que você conhece.
Embora às vezes você posa ter um momento de extrema lucidez, no qual deseja fazer uma escolha melhor, sem perceber você compara essa sabedoria com a voz do seu ego ferido.
E é muito mais provável que faça a pior escolha, pois o seu ego ferido já causou um estrago tão grande em você, interiormente, que a voz dele é a única que consegue ouvir.
Ela grita:
.Como posso ter certeza?
.Não posso confiar em ninguém.
.Não há ninguém que me apoie.
.Este é um mundo cão.
.Que se danem!
.Eu trabalhei duro para ter o que tenho.
.Ninguém me facilitou as coisas!
.Neste mundo nada é de graça.
.Só existem duas certezas na vida: a morte e os impostos.
.Já fui muito prejudicado; não vou me arriscar mais.
.Ninguém sabe o que sofri.
.Ninguém liga para mim.
.Não vai fazer diferença mesmo.
.Tenho todo o direito de ter o que eu quiser.
.Mas que bando de larápios!
.Sou muito melhor do que eles.
.Veja até onde cheguei!
.Isso não serve para mim.
.Fizeram a cama, agora que se deitem.
.São um bando de idiotas, eu não preciso ouvir o que dizem.
.Estou conquistando o que mereço.
A voz do ego ferido, como uma fera acuada, ruge tão alta fora de hora que abafa a voz mais elevada da razão e força você a ignorar o seu eu superior.
Ele tem que fechar a porta para a totalidade de quem você é e concentrar-se no que está errado ou no que está faltando.
Quando o ego está ferido, ele se recusa a ver, ouvir ou perceber qualquer verdade que não seja a que ele mesmo declara.
Esse é o seu principal mecanismo de defesa.
Pois, para sobreviver, ele precisa estar certo no seu modo de se ver, de ver as outras pessoas e de ver o mundo em geral.
Ele precisa, sem sombra de dúvida, procurar e criar realidades, circunstâncias e situações que confirmem as suas crenças sobre o mundo.
A função do ego ferido é agora se proteger a todo custo e bloquear qualquer coisa que o faça sentir a vergonha e a dor profundas que originalmente criaram a sua ferida.
Quando o ego ferido assume o comando, ele se torna um fio desencapado, perigoso e fora de controle.
Uma vez ferido, o ego perde a sua capacidade de distinguir fato de ficção, realidade de drama.
Como um mecanismo de proteção, o ego ferido passa a se concentrar em si mesmo.
Se ele está dirigindo o espetáculo, ou a sua vida inteira, é porque conseguiu mascarar a sua natureza superior, desconectá-lo de pelo menos metade de quem você é.
O ego é um guerreiro magistral e tem muitos mecanismos para garantir a sua vitória.
Ele trabalha diligentemente para proteger o seu território e para esconder os aspectos superiores do eu de modo que ele possa prevalecer.
A principal defesa do ego doente – que acaba sendo a sua derrocada – é a arrogância.
“Eu sou maior e melhor”, ele diz.
“As regras não se aplicam a mim.
Posso fazer o que quero e ninguém vai me pegar.”
Em toda sua prepotência, ele grita, “Ninguém vai me dizer o que fazer!”
Ou até pior: num leve sussurro, ele assegura, “Ninguém vai saber.
Ninguém vai descobrir”.
Essas são, todas elas, mensagens do ego doente e a voz da separação.
O ego ferido realmente acredita que pode agir de acordo com as próprias leis e sair ileso.
É isso o que ele faz – eis o nascimento da autossabotagem.
Se as regras não se aplicam a mim, então posso e farei o que quiser e quando quiser.
Enquanto a função do ego saudável é nos proporcionar uma identidade separada e única, o ego doente leva isso um passo adiante e tenta provar que somos únicos e especiais mesmo quando violamos a nossa integridade, desrespeitamos os limites das outras pessoas ou infringimos a lei.
Quando o ego ferido está no comando, o mundo exterior é visto apenas como alo que serve para preencher as suas necessidades e fazê-lo se sentir melhor.
As outras pessoas são consideradas como curativos em potencial para as suas feridas, como problemas a serem resolvidos ou como obstáculos a tirar do caminho.
O ego ferido, agindo separadamente do todo maior, é agora como um peixe fora d’água – ele salta incontrolavelmente, tentando encontrar o caminho de volta a sua segurança.
Perdido e sozinho em seu senso de separação debilitante, ele busca maneiras de dar sentido à sua vida.
Mas, em vez de se ver como parte de um todo maior, ele só consegue ver o que não tem.
É incapaz de ver a vida como um todo e só consegue enxergar a partir da perspectiva estreita do eu limitado – sozinho, pequeno e aparentemente abandonado.
Na tentativa desesperada de recuperar o controle, ele toma para si o papel de liderança e se lança como a estrela do espetáculo.
De repente, a parte mais desesperada, deficiente e ferida de nós assume o controle.
A invasão maciça do ego ferido teve início.
( Debbie Ford – Como Entender o Efeito Sombra em Sua Vida)
Grande beijo no coração
Bell-Taróloga