Ninguém Vence Ninguém
O mundo atual tem como característica a competição.
A maioria das pessoas sonha em vencer umas as outras.
Elas desejam vencer o outro para conquistar uma vaga no vestibular; desejam vencer o outro para conseguir um cargo mais alto na empresa; vencer o outro para fazer seu comércio ganhar os clientes do mercado; vencer o outro numa competição esportiva, e assim por diante.
Praticamente tudo o que existe em nosso mundo possui algum aspecto de competição, de conquista de uns sobre os outros, onde uma pessoa sai vitoriosa e outra sai derrotada.
Seja num simples jogo de videogame até uma eleição para presidente de um país; tudo na vida humana gira em torno de concorrências, rivalidades e disputas diversas.
No entanto, todo esse mundo de competição e de vitórias e derrotas nada mais é do que uma insustentável ilusão.
Não há vencedores e não há tampouco perdedores em nosso mundo. Uma pessoa jamais pode vencer a outra, seja em que campo for.
Essa afirmação pode parecer estranha e irreal a primeira vista.
Ela parece contradizer tudo o que conhecemos do nosso mundo de êxitos, triunfos, conquistas e sucessos, onde desejamos que nosso ego seja mais e mais reforçado diante de todos e nossos desejos mais e mais satisfeitos.
Vamos explicar, com alguns exemplos, porque esse mundo de competição não passa de mera ilusão e de que forma é impossível uns vencerem os outros.
Vamos imaginar que um jovem deseje passar no vestibular.
Para realizar esse feito, ele deve fazer uma prova e adquirir uma pontuação mais alta do que os outros candidatos.
Ele inicia seus estudos e logo se depara com uma série de problemas e contratempos.
Conforme vai estudando, ele sente dificuldade de concentração.
Todo o mundo ao seu redor o induz a largar os estudos e usufruir dos prazeres que se apresentam.
Ele poderia parar de estudar e começar a ver TV; poderia parar o estudo e jogar videogame; poderia conversar pelo celular com seus amigos; poderia simplesmente sair e ir ao shopping; poderia também sair com amigos para beber e se divertir.
Mas a cada momento ele sente que o estudo é mais importante e vai aos poucos vencendo as tentações de sair, se divertir, ou simplesmente ficar deitado numa condição ociosa.
Dentro desse exemplo é importante notar o seguinte: cada vez que ele dispensa o prazer e se concentra nos estudos, ele obtém uma vitória sobre si mesmo.
Ele sabe que precisa renunciar a coisas menores, momentâneas e fúteis para adquirir algo maior. Fazendo isso, ele trabalha a si mesmo e vai se tornando uma pessoa melhor.
Vamos observar que essa vitória não é sobre outros candidatos, não diz respeito a ganhar do outro, mas sim uma vitória sobre si mesmo: sobre a preguiça, sobre o prazer, sobre a impaciência, sobre o tédio, sobre a insegurança, etc.
Na realidade, conforme ele vai estudando e se dedicando mais e mais, ele não vai vencendo outros candidatos, ele vai vencendo apenas a si mesmo.
Esse caso é bastante ilustrativo de como o ser humano conserva a ilusão de estar vencendo o outro quando, na realidade, ele está apenas superando a si mesmo a cada dia.
Vejamos outro exemplo que pode nos esclarecer ainda mais.
Vamos imaginar um corredor que deseje conquistar uma medalha de ouro numa competição.
Esse corredor estabelece uma meta de correr 2 horas por dia.
Ele percebe, no entanto, que essa meta não será suficiente pra leva-lo à vitória.
Ele decide então aumentar esse meta; ao invés de 2 horas, ele passa a correr 3 horas.
Para honrar essa meta ele deve resistir ao cansaço que se estabelece em seu corpo.
Conforme ele vai correndo, não apenas o cansaço físico vai se fazendo presente, mas também pensamentos de insegurança vão invadindo sua mente.
Ele começa a pensar: Será que sou capaz?
Será que estarei tranquilo na hora da corrida?
Vale a pena largar tudo por esse objetivo?
Ele precisa renunciar a uma série de coisas.
Ele terá que vencer o desânimo dentro de si; terá que vencer seus próprios medos de perder; terá que vencer sua ansiedade e suas angústias diante da possibilidade da derrota.
Tudo isso gera um movimento dentro de si que o faz conhecer a si mesmo e superar seus próprios demônios internos.
Nesse momento, seu confronto não é com o outro corredor, mas sim consigo mesmo.
Ele precisa vencer seus limites, precisa superar sua condição antiga e ir além, passando a uma condição mais desenvolvida e madura de si mesmo.
Conforme vai treinando mais e mais, ele vai conseguindo vencer e triunfar sobre si mesmo, e não sobre o outro.
Se ele fosse um arqueiro numa competição, precisaria trabalhar sua tranquilidade interior para acertar o alvo; se ele fosse um jogador de basquete, teria que liberar sua mente de qualquer insegurança, qualquer medo, qualquer autocobrança, para conseguir acertar as cestas, fazendo mais pontos.
Vamos mais uma vez observar que a vitória que ele conquista não é sobre outras pessoas, mas sobre si mesmo, sobre suas imperfeições, seus limites, seus medos, seu desânimo.
Ele vai ficando mais forte, mais resistente e mais humilde.
Cada vez que ele tenta ir além, há uma série de barreiras internas que fazem pressão para trás.
A pessoa, por seu lado, deve resistir a essa força contrária de limites pessoais, fraquezas e falhas, conseguindo superar cada um deles, obtendo assim uma vitória sobre si mesmo.
Nessa preparação, onde está o outro?
Os outros competidores não participam daquilo que pode nos levar à vitória.
Ele não vem nos impedir de estudar; ele não vem nos colocar para baixo; ele não vem nos segurar enquanto estamos treinando; ele não vem nos dizer que não vamos conseguir.
Quem faz tudo isso é a nossa mente, nossas emoções e nossos limites internos.
Por isso, cada competição humana nada mais é do que o ato de vencer a si mesmo; de vencer nossos erros, nossas máculas, nossos preconceitos, nossa apatia, nossa preguiça, nosso orgulho, etc.
Esse processo de mergulho interior e superação ocorre tanto antes quanto depois de uma competição.
O aluno que não passa numa prova de concurso faz (ou deveria fazer) uma reflexão sobre o que deveria ter feito para passar.
Ele se lembra de todas as vezes que faltou as aulas; todas as vezes que deixou de estudar por preguiça; todas as vezes que realizou atividades diversas ao invés de estudar e vai tomando consciência do que pode melhorar numa próxima ocasião.
Nesse momento, a revisão de nossos erros pode também nos obrigar a uma mudança de atitude para que, da próxima vez, nos esforcemos para mudar certos aspectos que nos limitaram. Nesse sentido, as competições humanas também são oportunidades de crescimento interior, melhoramento pessoal, amadurecimento, superação e autoconhecimento.
Então, a pessoa que estava competindo conosco nos ajudou; ela foi o instrumento de nossa melhora, de nossa reforma interior, do mergulho que precisamos dar dentro de nós mesmos.
Aquele que competiu conosco e nos venceu pode nos ajudar na compreensão de muitos dos defeitos e fraquezas que nos levaram a suposta derrota.
Essa derrota aparente traz uma possibilidade de vitória sobre nós mesmos.
Assim, não apenas a competição humana é mera ilusão, como aqueles que competem conosco nos ajudam a olhar para nós mesmos, reconhecer nossas limitações e ir além. Portanto, todos devem abandonar essa ideia de que é possível vencer o outro.
Não há vitória nem derrota sobre quem quer que seja. As disputas e competições humanas são ilusões do mundo.
Elas nos fazem acreditar que é possível vencer uns aos outros, quando, na verdade, as competições apenas nos colocam diante de nós mesmos, de nossos limites, fraquezas e imperfeições, e nos obrigam a sempre a supera-los.
Assim, todos devem entender que o eu está sempre competindo consigo mesmo, e não contra o outro.
A vida humana não um conjunto de competições contra outras pessoas, mas é apenas um exercício de superação de si mesmo.
Como disse Buda: “A vitória sobre si mesmo é a maior de todas as vitórias”.
O restante não passa de ilusão, pois ninguém compete com ninguém e ninguém vence ninguém.
Cada pessoa é que deve vencer suas próprias limitações.
(Autor: Hugo Lapa)
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